Edie Windsor hackeou o sistema – não apenas com a criação de códigos. Formada em Matemática pela Temple University e mestre pela New York University, Edie trabalhou por 16 anos na IBM, onde consolidou sua carreira e se tornou referência como uma das primeiras mulheres em cargos técnicos de alto nível. Além de destaque na carreira em tecnologia, Windsor fez história no caso “United States v. Windsor”, julgado pela Suprema Corte dos EUA em 2013.
Edie se casou com Thea Spyer, sua parceira de mais de 40 anos, no Canadá em 2007. Porém quando Thea faleceu em 2009, o governo dos EUA não reconheceu o casamento, e obrigou Edie a pagar mais de US$ 360 mil em impostos de herança — algo que não aconteceria com um casal heterossexual. Sua luta não foi apenas pessoal — foi um marco que impactou milhões de vidas LGBTQ+ e redefiniu o conceito de igualdade perante a lei. Edie Windsor provou que tecnologia e justiça social não são mundos separados. São linhas de código e de conduta que estão sob constante escrita, revisão e podem ser alterados e melhorados.
Em 2019, no Brasil, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais, se declaravam lésbicas, gays ou bissexuais, correspondendo a 1,8% da população adulta. Dentro desse percentual, considerando apenas as mulheres, 0,9% declaram-se lésbicas. Vale ressaltar que esses números não correspondem a uma afirmação de quantas pessoas LGBTQIAPN+ existem no Brasil. Essa informação representa apenas a quantidade de pessoas que se sentem confortáveis para se autoidentificar ao IBGE como tal, diz a analista da PNS, Nayara Gomes.
Também é importante destacar que, de acordo com o IBGE, o percentual da população que se identifica como queer é maior entre os que têm nível superior, sendo de 3,2%. A escassez de dados dificulta a medição dos progressos conquistados, mas abre espaço para consolidação de iniciativas que buscam criar espaços seguros e promover a inclusão LGBTQIAPN+ em áreas predominantemente heteronormativas.

Do Orgulho à prática: Iniciativas que constroem ambientes seguros
A “Orgulho Tech Conf”, é um exemplo muito importante de progresso, sendo descrita como a “1ª conferência para profissionais LGBT na tecnologia no Brasil”. Seu objetivo é ser um espaço seguro e acolhedor, promovendo a representatividade. Em 2024, foi realizado a primeira conferência, contando com a presença de profissionais e líderes na área que estavam dispostos a compartilhar suas experiências e conhecimentos. Camila Crispim, que se identifica como lésbica e é a principal Engineer na Thoughtworks, esteve presente. A Software Developer do Nubank, Nathally Souza, uma mulher travesti, também foi uma presença muito importante para o evento.
Outros profissionais de destaque também participaram, como Thiago Holanda, da Biti9. Em suas palavras: “A autenticidade é uma força. Quando deixei de esconder quem eu era, minha carreira deslanchou. A tecnologia precisa de mais pessoas que possam ser quem são”. Rafa Moes, CEO da Elu Inovação, palestrante e integrante da organização do evento, reintera a importância dessa iniciativa. Segundo Moes: “[…] meu propósito é potencializar o ecossistema de tecnologia, por meio da diversidade e inclusão, para gerar mais inovação, resultados exponenciais e impactar socialmente e economicamente o maior número de pessoas”.
Iniciativas como essa reforçam a busca por inclusão, e não apenas igualdade. A capacidade de ser autêntico no local de trabalho é fundamental para o bem-estar e o sucesso profissional. Quando os indivíduos são forçados a “cobrir” sua identidade, isso drena recursos cognitivos e emocionais que poderiam ser direcionados para a inovação e produtividade (Reis, G. G.; Azevedo, M. C. Relações entre autenticidade e cultura organizacional – 2015).
Identidade e Carreira: Desafios da inclusão LGBTQIAP+
A segurança psicológica é essencial para o florescimento profissional. Além disso, contar com pessoas que sejam referência em posições de destaque exerce um papel crucial nesse processo. Angelica Ross, é uma mulher trans negra, atriz, cantora e autodidata em programação de computadores. Tornou-se fundadora e CEO da TransTech Social Enterprises, uma empresa que auxilia na empregabilidade de pessoas trans na indústria de tecnologia. Ela afirma: “Quando me veem na televisão vivendo meu sonho como uma mulher trans negra de pele escura, capaz de ocupar espaço tanto na indústria de tecnologia quanto em Hollywood, o que isso lhes diz é… eles não precisam tentar se encaixar em uma caixa”.
A conexão entre identidade e carreira é profunda. Leanne Pittsford, CEO e fundadora da Lesbians Who Tech, ressalta, em entrevista para a Forbes (2018): “Passamos tanto tempo no trabalho que nossas identidades estão conectadas ao que fazemos para viver. As pessoas deveriam poder exibir suas identidades com orgulho no trabalho e as empresas que apoiam isso atrairão e reterão talentos.”. A Thoughtworks Brasil, consultoria global de tecnologia, adota o tema “You be You” para o PRIDE, reforçando a importância de que todos se sintam à vontade para serem autênticos. A visibilidade e a autenticidade são formas de desafiar o sistema, levando ao empoderamento e a melhores resultados tanto para os indivíduos quanto para a indústria.
Por mais que ainda exista um longo caminho a ser percorrido em ambientes corporativos, uma pesquisa conduzida pelo LinkedIn (2022) afirma que 8 em cada 10 profissionais se sentem confortáveis para compartilhar sua identidade de gênero e orientação sexual no espaço de trabalho. Além disso, o estudo realça que empresas que cultivam ambientes inclusivos não apenas promovem o bem-estar de seus colaboradores, mas também se destacam na atração e retenção de talentos diversos. Dados complementares — como o fato de que 43% dos entrevistados relatam experiências de preconceito, como por meio de piadas e comentários homofóbicos, e de que 53% dos profissionais LGBTQIAP+ não acreditam que suas empresas realmente promovam ações efetivas de diversidade, apesar de muitas afirmarem fazê-lo — evidenciam a distância entre a percepção de inclusão e a experiência real vivida por muitos profissionais.

A ST-One e a jornada LGBTQIA+ na tecnologia
Em 2022, a ST-One foi reconhecida pelo ranking 100 Open Startups como o maior caso de Empreendedorismo LGBTQIA+ no Brasil. Esse reconhecimento se deu, em grande parte, pela composição majoritária de sócios pertencentes à comunidade e pelas políticas de inclusão implementadas no dia a dia da indtech.
Para além de premiações, a empresa é comprometida com o impacto que possui internamente e perante a sociedade. Em 2023 a campanha promovida foi feita em parceria com a prefeitura de Curitiba e o Hotel Social Eilat. O hotel é o primeiro do estado que oferece hospedagem social para mulheres trans e travestis em situação de vulnerabilidade. O espaço tem 20 vagas e oferece acolhimento 24 horas. Segundo a prefeitura, o atendimento para esse público surgiu da demanda de um ambiente seguro, devido à dificuldade de acolhimento em ambientes com homens cis. A partir disso, a ST-One arrecadou fundos, com a contribuição da empresa e dos colaboradores, que foram convertidos em kits de beleza para essas moradoras.
Em 2024, com o crescimento da empresa, foram propostas ações de conscientizações internas, com o apoio do Grupo Dignidade – para debater e conscientizar sobre pontos-chave sobre a comunidade LGBTQIA+, como histórico, esclarecimentos sobre a sigla e cenário atual no Brasil. Em 2025 a campanha contemplou todo o mês de Junho, contemplando com interações e divulgações sobre o tema para todo o time. Na segunda-feira, 23, foi realizada uma conversa com Eduardo Bucco, Talent Acquisition Advisor na Mondelēz International, Mestre em Administração, Professor, Pesquisador e Palestrante em DE&I.