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Autonomia em rede: a lógica M2M e C2M para indústrias

Nem toda máquina automatizada se enquadra em um sistema de comunicação Machine to Machine. A presença de um CLP, embora essencial para a operação, não é suficiente. Para ser considerada parte desse sistema, a máquina precisa estar conectada a uma rede que permita a troca autônoma de informações com outros pontos da produção.

Essa comunicação precisa acontecer com um objetivo claro, como otimizar etapas da produção, realizar diagnósticos ou monitorar variáveis. Para que um sistema seja considerado M2M, é preciso que vá além da simples automação e atenda a alguns critérios. Existem três elementos que podem definir esse sistema:

 

  1. Dispositivos inteligentes: que tenham capacidade de gerar, coletar e enviar dados, sendo a fonte ou destinatário da informação;
  2. Rede de comunicação: que atuam como meio pelo qual os dados são transmitidos, envolvendo redes indústrias, redes sem fio ou protocolos de comunicação;
  3. Comunicação autônoma: que não dependam de um operador para iniciar a ação.

Por exemplo, em uma indústria de papel e celulose, o controle da etapa de cozimento é importante para a qualidade do produto final. Sem comunicação Machine to Machine, o digestor (tanque onde as fibras da madeira são processadas), depende da atuação manual do operador. A cada 30 minutos, ele precisa ir até o equipamento, anotar manualmente as leituras dos medidores analógicos e, caso necessário, ajustar uma válvula de forma manual.

Em contraste, com a tecnologia M2M, esse mesmo digestor é equipado com sensores digitais conectados a um CLP, que se comunica em tempo real com a rede da fábrica. Se a pressão ultrapassa o limite seguro, o CLP envia automaticamente um comando para o atuador da válvula, que realiza o ajuste sem intervenção humana. Os dados também alimentam o sistema de gestão, emitindo uma ordem de serviço para a manutenção, tornando a operação mais ágil e segura.

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A evolução da comunicação máquina-a-máquina

A forma como os dispositivos industriais se comunicam impacta diretamente a eficiência, o alcance e a complexidade das operações. Além do conceito de M2M, existe outra abordagem para a comunicação entre máquinas chamada Cloud to Machine, em que a nuvem desempenha um papel central no gerenciamento e coordenação dos dispositivos.

Enquanto o M2M se concentra na troca direta de informações entre equipamentos dentro de uma rede local, o modelo C2M utiliza servidores na nuvem como intermediários. Esse modelo permite que os dados e comandos circulem entre as máquinas de forma remota e centralizada, ampliando o alcance e as possibilidades de controle e análise.

Tabela comparativa de características entre M2M e C2M

Características

Machine to Machine

Cloud to Machine

Tipos de comunicação

Direta (peer-to-peer)

Indireta (via nuvem)

Alcance

Local (curta distância)

Global (longa distância)

Infraestrutura

Redes locais e dedicadas

Conexão com a internet

Finalidade

Automação e controle local

Análise remota

Considerando a manufatura de papel e celulose, o modelo M2M permite que o controle do digestor aconteça de forma totalmente local. Assim, quando a pressão interna atingir um certo nível, o sensor envia um sinal direto ao CLP, que aciona o atuador responsável por abrir a válvula de alívio. Toda essa comunicação acontece dentro da própria rede da fábrica, sem a necessidade de conexão com a internet.

 Já no modelo C2M, o mesmo digestor continua operando localmente via CLP, mas agora os dados de pressão, temperatura e fluxo também são enviados para uma plataforma na nuvem. Isso permite que um gerente de produção visualize as informações em tempo real, mesmo a distância. Além do monitoramento remoto, a nuvem pode enviar comandos de volta ao CLP para ajustes operacionais ou acionar automaticamente a manutenção.

Essas duas arquiteturas oferecem caminhos distintos para a operação e o gerenciamento de ativos industriais, cada uma com seus pontos fortes e limitações. A escolha entre elas depende das necessidades específicas do processo, do nível de controle desejado e da infraestrutura disponível. Entender essas diferenças é fundamental para projetar sistemas mais eficientes, seguros e alinhados com os objetivos de curto e longo prazo da operação.

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Comunicação na indústria e lógica em rede: M2M vs. C2M

As diferenças entre os modelos M2M e C2M não se limitam à forma como os dados trafegam entre os dispositivos. Elas também influenciam diretamente na maneira como os sistemas são programados. O tipo de código, sua complexidade, o ambiente de execução e até mesmo as linguagens utilizadas variam conforme o papel que cada tecnologia desempenha na operação.

No modelo M2M, o código é desenvolvido para controle em tempo real e automação local, geralmente executado em CLPs ou microcontroladores robustos. No caso do digestor, ele é implementado diretamente no CLP, com foco no controle físico e na segurança operacional. Utiliza linguagens de baixo nível e lógica determinística para garantir que a pressão interna nunca ultrapasse limites seguros, acionando automaticamente a válvula de alívio sempre que necessário:

				
					// Exemplo de lógica em Texto Estruturado (similar a C ou Pascal)

VAR
    pressao_atual : REAL;
    limite_seguranca : REAL := 500.0; // PSI ou outra unidade
END_VAR

// Laço de execução contínua
LOOP
    pressao_atual := LerSensor('Sensor_Pressao_Digestor');

    IF pressao_atual > limite_seguranca THEN
        // Enviar sinal para o atuador da válvula
        AtivarAtuador('Atuador_Valvula_Alivio', ABRIR);
        
        // Acender uma luz de alerta local
        AtivarAlerta('Luz_Alerta_Digestor', LIGADO);
    ELSE
        // Manter a válvula fechada e o alarme desativado
        AtivarAtuador('Atuador_Valvula_Alivio', FECHAR);
        AtivarAlerta('Luz_Alerta_Digestor', DESLIGADO);
    END_IF
END_LOOP
				
			
Exemplo de código para M2M

No modelo C2M, o código é voltado à conectividade, análise de dados e controle remoto, sendo executado tanto em gateways IoT, na fábrica, quanto em servidores na nuvem. Ele opera em um ambiente distribuído e é dividido em duas partes. No gateway, o código não realiza controle direto, mas funciona como intermediário entre o CLP e a nuvem. Assim, coleta dados do digestor, como pressão, temperatura e fluxo, e os transmite com segurança para a plataforma em nuvem:

				
					import mqtt_client
import time

def enviar_dados_para_nuvem():
    # Conectar ao broker MQTT na nuvem
    client = mqtt_client.Client()
    client.connect("broker.nuvem.com", 1883, 60)

    while True:
        # Ler dados do CLP (pressão, temperatura)
        dados_digestor = ler_dados_clp()
        
        # Formatar os dados em um JSON
        payload = {
            "id_maquina": "digestor_01",
            "pressao": dados_digestor['pressao'],
            "temperatura": dados_digestor['temperatura'],
            "timestamp": time.time()
        }

        # Enviar o JSON para o tópico do digestor na nuvem
        client.publish("fabrica/digestor/dados", str(payload))
        
        time.sleep(5)  # Enviar dados a cada 5 segundos
				
			
Exemplo de código para C2M

Nesse caso, o código para Cloud to Machine apresenta uma lógica mais complexa do que no modelo Machine to Machine. Ele abrange etapas como autenticação de dispositivos, transmissão segura de dados por protocolos como MQTT, armazenamento em nuvem e aplicação de algoritmos preditivos.

Tabela comparativa de códigos para modelos de comunicação M2M e C2M

Característica

Código M2M

Código C2M

Local

CLP ou microcontrolador

Gateway (na fábrica) e servidores na nuvem

Linguagem

Ladder logic, texto estruturado

Python, JavaScript, C#

Objetivo

Controle físico em tempo real

Análise de dados, gestão e comando remoto

Lógica

Determinística, focada em segurança e ação

Abstrata, focada em dados e conectividade

Principal desafio

Confiabilidade e segurança do equipamento

Conectividade, segurança cibernética e escala

Mais do que uma escolha entre modelos de comunicação, adotar M2M ou C2M exige compreender o papel estratégico da informação dentro do processo produtivo. A forma como os dados são gerados, trafegam e são utilizados define não só o comportamento das máquinas, mas também a capacidade da operação de antecipar falhas, responder com agilidade e evoluir com consistência.

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