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Equidade: Identidade Negra e Mercado de Trabalho

Os dados do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, revelam mudanças relevantes na composição racial do Brasil, refletindo transformações sociais e identitárias importantes. Pela primeira vez desde 1991, a população parda tornou-se maioria, representando 45,3% dos brasileiros — cerca de 92,1 milhões de pessoas — superando a população branca, que corresponde a 43,5% (aproximadamente 88,2 milhões). Já a população preta representa 10,2% (20,6 milhões), enquanto indígenas e amarelos compõem, respectivamente, 0,8% (1,7 milhão) e 0,4% (850 mil) da população.

Em relação ao índice de envelhecimento — indicador que compara a proporção de idosos (60+) com a de jovens (menos de 15 anos) — os maiores valores foram observados entre a população amarela (256,5), seguida pelos pretos (108,3) e brancos (98,0), apontando para diferentes dinâmicas demográficas entre os grupos raciais. Regionalmente, os pardos são maioria em 58,3% dos municípios brasileiros, enquanto os pretos predominam em apenas nove cidades e os indígenas em 33. Esses dados não apenas delineiam a diversidade racial do país, como também revelam o fortalecimento das identidades étnico-raciais no Brasil contemporâneo. Nesse contexto, destaca-se a importância simbólica e política do Dia da Consciência Negra, que desde dezembro de 2023 passou a ser feriado nacional.

Celebrado em 20 de novembro, a data homenageia Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do Brasil, em Alagoas. Zumbi passou a viver no Quilombo dos Palmares ainda na juventude, que na época era governado por seu tio, Ganga Zumba. Nesse período, Ganga negociou com as autoridades, mas o acordo permitiu liberdade apenas aos nascidos em Palmares, enquanto os fugitivos seriam devolvidos à escravidão. Zumbi rejeitou o acordo, depôs o tio e liderou a resistência por 15 anos, até ser morto em 1695.

A data representa a luta contra o racismo e valoriza as contribuições dos afro-brasileiros para a formação cultural, social e histórica do país, reforçando a necessidade de promover a igualdade racial.

Equidade como sinônimo de ESG

O conceito de equidade racial refere-se à garantia de que todas as pessoas, independentemente de sua raça, tenham acesso igualitário a oportunidades no ambiente de trabalho. Isso inclui práticas justas de contratação, promoção e desenvolvimento profissional, voltadas à eliminação de barreiras estruturais e preconceitos sistêmicos.

No entanto, dados do Instituto Ethos (2024) revelam que, embora a inclusão de pessoas pretas e pardas esteja mais visível em cargos de entrada, como estagiários e trainees, elas ainda enfrentam dificuldades para ascender na hierarquia corporativa. Esse fenômeno é conhecido como “degrau quebrado” e simboliza a interrupção do crescimento profissional de minorias raciais. Segundo o mesmo relatório, pessoas pretas ou pardas ocupam menos de 14% dos cargos executivos e de diretoria no Brasil.

No contexto das indústrias e das práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança), a equidade racial também se torna essencial. Dentro da dimensão de Governança, destacam-se iniciativas que promovem ética, transparência e responsabilidade, como o Índice ESG de Equidade Racial Setorial (IEERS), que avalia a presença de diversidade racial em diferentes níveis hierárquicos — não-liderança, gerência e diretoria — e nas diferentes regiões do país. Empresas que aderem ao Pacto de Equidade Racial recebem suporte técnico para calcular e monitorar a composição racial de seus quadros, além de orientações estratégicas para alcançar níveis mais justos de inclusão.

Larissa Lima, profissional da área de recrutamento e seleção da ST-One, ressalta que é preciso entender por que pessoas negras permanecem em cargos iniciais. Segundo ela, fatores como a escolaridade exigem atenção desde a base, com foco em programas de mentoria e aprendizagem. Essas ações contribuem para o desenvolvimento dos colaboradores e para a construção de trajetórias profissionais mais equitativas dentro das organizações.

Identificação Racial, Letramento Racial e Colorismo

A identificação racial diz respeito ao modo como as pessoas se percebem e são percebidas racialmente dentro de uma sociedade. Esse processo envolve fatores individuais, históricos e sociais, estando fortemente ligado ao contexto cultural, às relações de poder e às experiências vividas por cada grupo racial. No Brasil, onde as relações raciais são marcadas por uma história de escravidão, miscigenação e desigualdades estruturais, essa identificação se torna ainda mais complexa e desafiadora.

Nesse cenário, o letramento racial surge como uma importante ferramenta educativa voltada à construção de uma consciência crítica sobre o racismo. Criado pela antropóloga afro-americana France Winddance Twine, o conceito promove o reconhecimento, a compreensão e o enfrentamento das diversas manifestações do racismo, aliando políticas públicas e cotas à reeducação individual com base em cinco pilares. Esses fundamentos incluem:

  1. Reconhecimento da branquitude como fonte de privilégios;
  2. Entendimento do racismo como uma questão atual;
  3. Noção de que identidades raciais são construídas socialmente;
  4. Importância de um vocabulário racial adequado e inclusivo;
  5. Capacidade de identificar práticas racializadas no cotidiano.

A linguagem, nesse contexto, é um instrumento central na desconstrução de preconceitos e na promoção de mudanças culturais.

Dentro da estrutura de racismo, há também o colorismo — sistema de discriminação baseado na tonalidade da pele dentro de um mesmo grupo racial. Mesmo com a maioria da população brasileira se declarando negra (pretos e pardos), as desigualdades persistem, afetando mais intensamente as pessoas de pele mais retinta. Esse preconceito tem raízes no período colonial e é reforçado pelo mito da democracia racial, que oculta desigualdades. No Brasil, há uma valorização do “mestiço-claro”, associado à brancura. Discutir o colorismo é essencial para reconhecer essas discriminações, fortalecer a identidade negra e valorizar a diversidade racial, como afirmou Lélia Gonzalez: “tornar-se negra é uma conquista”.

Diversidade como alavanca de performance

A construção da identidade negra no Brasil é complexa e marcada por processos históricos que associam negativamente o “ser negro”, especialmente no ambiente de trabalho. O artigo “Relações raciais e histórias de vida” (2020) mostra que, apesar de avanços, a lógica meritocrática ainda ignora as desigualdades raciais, reforçando estereótipos que colocam pessoas negras em funções específicas e dificultam sua ascensão.

A falsa ideia de democracia racial contribui para o silenciamento dessas questões e a manutenção de uma convivência apenas aparente. Reconhecer essas dinâmicas e promover o diálogo aberto sobre relações raciais são passos importantes para fortalecer a identidade negra e combater estruturas de exclusão.

Segundo a revista Forbes (2021), as indústrias devem ser socialmente responsáveis, promovendo diversidade, inclusão e equidade, especialmente para refletir a pluralidade de seus consumidores. No Brasil, pessoas pretas e das classes CDE concentram mais de 80% da intenção de compra, o que reforça a importância de representatividade nas lideranças organizacionais.

Empresas com equipes diversas são mais capazes de compreender diferentes perfis de clientes, além de se beneficiarem com a construção de relações positivas, maior retenção de talentos e fortalecimento da marca empregadora. A diversidade étnica e cultural nas lideranças está diretamente associada à lucratividade e à performance organizacional. No entanto, esse processo exige um compromisso contínuo, com lideranças fortes e estratégias consistentes. Apesar dos desafios, os ganhos sociais e econômicos tornam esse investimento essencial.

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